DATA: 28 DE ABRIL DE 2004.
Este poema foi feito para ser declamado na Prima Terça, evento de cultura organizado pelo Setor de Cultura do Partido dos Trabalhadores, DIA 04 DE MAIO DE 2004.
Esta obra deve ser considerada resultado do Fórum de Cultura Popular, cuja referência é o Espaço Cultural Ícaro Arte.
“... e que os nossos sonhos sejam como os sonhos de Ícaro, embora pareçam difíceis de se concretizarem, nunca morrerão”.
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Ser popular é ser como criança, correr como criança,
Soltar raia, catar papelão, pedir um trocado;
Imaginar ser um herói, quando os outros caçoam de nós,
Botar apelido nos outros e ser apelidado pelos outros.
É esquecer o patinho feio e voar como águia.
Ser popular é cantar no banheiro, andar na chuva,
Mesmo que seja para desentupir a boca lobo na rua.
Ajudar a limpar a sujeira da enxurrada na casa da vizinha
E chorar junto com ela pelo leite derramado.
Ser popular é andar a pé,
Fazer calos no calcanhar por causa do buraco no sapato.
É não se importar com a calça desbotada
Nem com a gola da camisa desfiada
E resmungar na hora de tirar o espinho do pé.
Ser popular é cantar parabéns a você
Sorrir das piadas sem graça e ir a festas de crianças pobres.
É dedilhar um violão sem saber tocar,
É agradecer quando a gente faz um favor.
Ser popular é ir a igreja e olhar para todos os lados,
Fazer fila para conseguir as coisas,
Se acotovelar pra chegar a algum lugar.
É pensar que esta fazendo sucesso e sorrir,
Estar feliz, mesmo que seja de aparência.
Ser popular é acreditar na fidelidade,
Criar um gato e um cachorro vira-lata e sentir-se protegido.
Ou então se sentir acariciado por quem não sabe o que é afeto.
É dividir tudo, inclusive falar com as flores, pelo menos.
Ser popular é confiar nos políticos,
Vender o voto por um prato de comida,
Matar a fome com lingüiça e pão francês do Brasil.
É pedir a benção ao Padre e ao Pastor
E rezar por aqueles que nos tortura e nos mata.
Ser popular é xingar o guarda
Comparar a agente de transito com um periquito,
Chamar o soldado de macaco de governo
E acreditar que a ditadura já acabou.
Ser popular é ir a escola
Levar flores pra professora sem querer nada em troca.
Brincar de amarelinha no corredor, na hora do recreio,
E não perder o lanche por nada deste mundo.
Ser popular é reformar as coisas velhas,
Arrancar na marra as amarras que prendem nossas mãos.
Derrubar muros que separam culturas,
Crer que a segregação só importa aos arrogantes
E que, quando damos as mãos ficamos mais fortes.