Crônica escrita em 12 de agosto de 2006, exclusivamente para jornal a Tribuna do Paraná
A outra face da campanha eleitoral
Na eleição anterior a propaganda dos candidatos repugnava até o mais cético dos eleitores. Não escapava postes, placas de trânsito, arvores pontos de ônibus, entre outros locais públicos. Muita gente desfilava pela rua com boné, camiseta, chaveiro, porta-título, caneta, entre outros objetos que trazia a marca de postulantes a um cargo legislativo ou executivo. Na periferia de Curitiba, o candidato e seus cabos eleitorais doavam inalador, pagava conta de água e luz, promovia linguiçada, distribuía prendas a entidades e despejava promessas inacreditáveis. Em restaurantes e bares, do mais simples em bairros carentes até os mais sofisticados em Santa Felicidade, rolava jantares, bailes e confraternizações diversas. No fim, os shows com artistas famosos fechava com chave de ouro. Na eleição passada, a eleição de boa parte dos candidatos deveu-se ao casamento da poluição visual com o pão e circo.
Na eleição atual os candidatos estão mais comportados. A cara dos locais públicos está limpa e até o mais cético dos eleitores já percebeu a razão de tanta calmaria. Com a nova lei para as propagandas políticas, os partidos e candidatos lançaram um novo método, que não suja as ruas nem polui a visão. Trata-se do candidato laranja, aquele que não possui a mínima chance de eleger-se Deputado Estadual, mas é capitaneado e bancado por candidato a cargos maiores; trata-se ainda da disputa por lideranças comunitárias de associações, sindicatos, fundações, clubes de futebol e até grêmios estudantis. Os candidatos remuneram-os para que apenas digam que vota em "fulano".
Na comparação da campanha anterior com a de hoje, percebe-se que mudou a estética e o planejamento, mas o conteúdo e o discurso permanecem os mesmos. Quase nenhuma preocupação com a coerência e apresentação purificada de um histórico pessoal.
A cara da atual campanha não é nova. Apenas possui uma estética diferente. Então, o mais cético do eleitor tem razão de novo. Nesta eleição já se repete as tragédias culturais e seria bom que no dia da eleição os candidatos não espalhassem santinhos de madrugada nem contratasse pessoas para ficar nas esquinas vestindo uma camisa e segurando uma bandeira.
Assinado: José Domingos da Silva