Juvenal seguia para a praia de Guaratuba e parou na Praça de Pedágio. Olhou para a cobradora e disse:
- Eu não tenho dinheiro.
- Como?
- Eu não tenho dinheiro!
- Então o Senhor não pode passar.
- Como não posso passar?
- O Senhor, sendo motorista, deve saber que o pedágio é obrigatório nessa estrada.
- Sim, eu sei. Mas eu não tenho nenhum dinheiro e preciso ir até a praia.
- Como o Senhor vai até a praia sem nenhum dinheiro?
- O único dinheiro que tinha gastei em combustível.
- Então o Senhor aguarda um instante que um funcionário da concessionária vai atendê-lo.
- Sim Senhora!
Logo chegou o funcionário e disse-me:
- A cancela vai abrir, o Senhor estaciona naquele canto.
- Tudo bem!
Atravessei a cancela e estacionei no canto ordenado.
Logo apareceu mais um funcionário e passaram-me a interrogar.
- Senhor, o pagamento de pedágio é obrigatório e nenhum carro pode passar sem pagar a taxa.
- Eu sei que é obrigatório, mas eu não tenho dinheiro.
- Então, lamentavelmente, o Senhor terá que retornar.
- Só porque não tenho dinheiro pra pagar o pedágio?
- Sim Senhor!
- Lamentavelmente, eu não posso retornar. Tenho uma hora pra chegar até Guaratuba.
- Se o Senhor transportasse uma pessoa doente ou houvesse algo grave que pudéssemos ver, deixaríamos o Senhor passar.
- Pois bem! Felizmente não transporto nenhuma pessoa doente e graças a Deus não há nenhum problema grave, nem com minha pessoa nem com meu automóvel. O único problema é que não tenho dinheiro para pagar o pedágio.
- Se o Senhor vai para praia, como poderá se divertir sem nenhum dinheiro.
- A diversão é opcional e têm muitas alternativas de diversão na praia.
- Mas o Senhor teve que encher o tanque do carro. Fez isso sem dinheiro?
- Não! Mas pude escolher o posto de gasolina mais barato e economizar.
- Olha Senhor, quem não tem dinheiro não vai a praia.
- Negativo. A praia aceita todas as pessoas. As que têm e que não tem dinheiro.
- Quero dizer, Senhor, que pra ir á praia é preciso ter dinheiro para cobrir alguns gastos obrigatórios, por exemplo, o pedágio.
- Sim, mas todos os gastos me apresentam alternativas de escolha e formas de pagamento... Queria ir por outro caminho, mas o único que existe é esse.
- Lamento, mas o Senhor terá que retornar!
- Eu não posso retornar, tenho que seguir até a praia.
- Então terei que chamar a Polícia.
- Acho melhor!
Tomei um cafezinho de uma garrafa térmica, e depois de um tempo chegou uma viatura da Policia Rodoviária, com dois policiais.
- O que se passa?
- Esse cidadão vai a praia e não quer pagar o pedágio. Ele já afirmou que não há ninguém doente no carro e não tem nenhum problema aparente que justifique a isenção da taxa.
- Porque o Senhor não que pagar?
- Porque não tenho nenhum dinheiro.
- Mas o Senhor sabe que a taxa de pedágio é obrigatória e o não pagamento pode implicar em multa.
- Sim, eu sei. Mas eu não tenho nenhum dinheiro, tenho que chegar a praia e este é o único caminho por onde posso ir.
- Sabia que poderíamos prendê-lo?
- Mas, e as outras pessoas que estão no carro. Também serão presas?
- ficariam detidas?
- Só porque não tenho nenhum dinheiro?
- Não! Porque o Senhor se omite em pagar a taxa obrigatória.
- Senhor guarda! O dinheiro que tenho está contado. Um tanto pra comida, outro pra bebida, outro para o combustível de volta.
- Porque não contou com a parte do pedágio?
- Porque as despesas que citei são necessárias e posso escolher o valor e o local de adquiri-las!
- Pois bem, o pedágio é uma lei e o Senhor terá que cumpri-la. Senão terei que multá-lo.
O funcionário perguntou:
- Senhor guarda. E quem vai pagar a taxa de pedágio?
- Se ele não tem dinheiro, nada posso fazer. Só posso multá-lo.
Perguntei:
- Qual a infração que cometi, Senhor guarda?
- Desrespeito a lei.
- Senhor policial. Toda lei é obrigatória mas apresenta alternativas para cumpri-las.