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Veja
Não diga que a canção está perdida
Tenha fé em Deus, tenha fé na vida
Tente outra vez

Beba
Pois a água viva ainda está na fonte
Você tem dois pés para cruzar a ponte
Nada acabou, não não não não

Tente
Levante sua mão sedenta e recomece a andar
Não pense que a cabeça agüenta se você parar,
não não não não
Há uma voz que canta,
uma voz que dança,
uma voz que gira
Bailando no ar

Queira
Basta ser sincero e desejar profundo
Você será capaz de sacudir o mundo, vai
Tente outra vez

Tente
E não diga que a vitória está perdida
Se é de batalhas que se vive a vida
Tente outra vez


Link: http://www.vagalume.com.br/raul-seixas/tente-outra-vez.html#ixzz2k0W3PSyd

Eis a questão
Eis a questão

O que é certo dizer: É melhor roubar e não passar fome ou passar fome e não roubar? Certamente o Chicó, personagem de Selton Melo, no filme Auto da Compadecida, diria que depende do tamanho da fome e da grandeza do roubo. Já Padre João, personagem do Rogério Cardoso, no mesmo filme, diria que tudo que acontece conosco é da vontade de Deus, inclusive a fome, temos que aceitar as coisas como Deus manda e nunca se rebelar contra suas ordens.

Em Curitiba, a cada dia essa discussão ganha corpo. E não é nas academias ou nas rodas de nobres desocupados da Boca Maldita. É no cotidiano, no vai e vem das pessoas, no contraste entre as lutas de muitos pela sobrevivência e os esquemas de poucos pela manutenção dos privilégios.

Ainda ontem uma mulher de trinta e seis anos de idade "furou o tubo", entrou no ônibus biarticulado da linha Circular Sul pela porta traseira. trazia duas crianças. Uma menina de oito anos e um menino de onze. Mais que depressa se acomodou atrás de mim e de outros passageiros que estavam de pé. As crianças não se importaram onde ficar. Pareceu uma atitude comum àquela família "furar tubo" e, à mim, também pareceu, pois vejo muitos fura-tubos pelos nove cantos da cidade. E o motorista? Agiu como dizia minha vó. Olhos e ouvidos de mercador.

Na mocidade da minha vó, o mercador era um vendedor que ia de casa em casa e vendia de tudo. Garantia até o que não era possível, inclusive trocar o produto se o comprador não ficasse satisfeito. Depois da compra surgia os defeitos e o mercador não dava ouvidos a reclamação e nem olhava os defeitos. Na maioria das vezes convencia o comprador a adquirir outro produto. Minha vó dizia que eram turcos. Todo vendedor ela dizia que era turco. Puro preconceito. Ela costumava nos ensinar que turcos, judeus e orientais eram todos farinha do mesmo saco: nunca escutavam as reclamações dos serviços que prestavam.

O motorista fechou a porta do ônibus e seguiu o trajeto. falar a verdade é bom, pois quem fala a verdade não merece castido. Não sei qual a moral dessa história, mas estou convencido que:

Primeiro, a mulher é um ser humano empobrecido que não tem dinheiro, r$ 3,75, para pagar uma passagem de onibus;

Segundo, se os motoristas e cobradores fossem obrigar todos os "fura-tubos" a sair do onibus e pagar a passagem, não cumpririam os horários pré-determinaods e receberiam multas como prêmio;

Terceiro, 'fura-tubos' é o único programa de justiça social que existe no transporte coletivo de Curitiba. Os outros são programas de fantasia.

Quarto e último, metade da idade da mlher é mais ou menos o tempo que o atual grupo político governa Curitiba e o Estado do Paraná.

Eis a questão!

 

11 de março de 2002