Amigos e amigas
Que me ouvem nesta hora
Apresento-me a vocês
Serei breve sem demora
Sou passado sou futuro
Meu sobrenome é agora
A historia aqui descrita
Não sou eu que vou contar
Serão dois personagens
Logo vão se apresentar
Dou uma chance a eles
Vamos ver no que vai dar.
Encontrei-os maltrapilhos
Como tantos por ai
Muita sujeira e fome
Fuligem até o nariz
Catando lixo dia inteiro
Ágüem pode ser feliz?
O primeiro camarada
Em resumo é um homem
Tem a boca e as pernas
Para não morrer de fome
Ou outros o chamam de Primao
Preguiçoso até no nome.
Um branco outro negro
Os dois são maltrapilhos
Comem pouco e muito mal
Água com farinha de milho
De noite, o luar é a maior riqueza
De dia resta o sol, o brilho.
Prepare-se amigo leitor
Um diálogo vai começar
Ouça bem os carinheiros
Eles tem muito que ensinar
Pinguços de qualquer rua
Um dicionário particular.
Alberto:
Obrigado meu amigo
Por você me escuta,
Descupa meu chero forte
Não tenho roupa pra troca,
Mas vejo que tu é humilde
E não vai se importa.
Primão:
Eu também sô assim
Nada mais tenho a dize.
Ais veis a gente se alegra
E esquece de sofre.
Meu carrinho de papel
Testemunha pra você.
Autor:
O que quero de vocês,
Meu amigo carrinheiro,
É que me de sua opinião,
Opinião de caminheiro,
Sobre a cidade Curitiba,
E a conhecem, mais que um pioneiro.
Alberto:
Ando cidade a fora,
Vejo de tudo meu irmão.
Barraco do lado de casa chique,
Prédio grande e mansão.
Todo mundo põe muro e grade
E engaiola o coração.
Primao:
É tanta riqueza nessa cidade
Nois num ganha o que merece
Os danados dos dinheirista
Roe uma unha enquanto outra cresce
Agente só na pindaíba
Vive ruim mas não entristece.
Alberto interrompe Primao:
Deixa eu dize uma coisa
Do fundo do coração
Saimo madrugadinha
Tomamo um gole de cachacinha
Pra chega antes do caminhão
Diga você que é estudado
...
...
...
Primão:
Pra enche um carrinho desse
É preciso sair cedão.
Se sai com o sol alto
A gente perde pro caminhão,
Agora tu já pensou,
Como é duro nosso pão?
Autor:
Agora digam por favor,
O que é mais fácil pra se acha.
Papel pra encher carrinho
Ou um litro de cachaça.
Essa pinga na mão de vocês,
É comprada ou vem na faixa.
Alberto:
Nois vendemo os papel,
E juntamo uns tostão.
Depois em qualquer boteco
Tem pinga de garrafão,
Cachaça de graça pra nois,
Aqui tem disso não.
Primão:
O papel que a gente junta
Eu nem sei quanto é de dá.
Pelo menos a cachaça
A gente pode comprar,
E quando o lixo é bom
Sobra um pouco pra guarda.
Autor:
Vocês teen religião?
Crêem em Deus? Quem os protegem?
14 – Agora: digam meus companheiros
sobre o litro de cachaça
vocês compram com dinheiro
ou conseguem isso na faixa
em Curitiba os lixeiros
os respeitam ou os abaixam
15 – teimoso: em qualquer boteco tem
a pinga de garrafão
nois compramo essa mardita
não é na faixa não
carrinheiro em Curitiba
corre feito um ladrão
16 – primao: o caminhão sempre cata
o melhor papel que tem
já tem até gente rica
catando papel também
pelo menos pra cachaça
não falta nosso vintém
17 – Agora: diz pra nos por favor
sobre sua religião
vocês rezam vão a igreja
ou vivem da ilusão
Deus é grande, ele existe,
Você crê na compaixão.
18 – teimoso: te garanto, nada sei
do negocio de religião.
Gente boa já encontrei
Gente ruim também achei
Ma chamando de ladrão.
Nunca roubo e nunca mato
Se ganho comida devolvo o prato
Eu sou um bom cristão.
19 – agora: ta ai meus companheiros
e companheiras também,
a visão de dois carrinheiros
que andam o dia inteiro
pra ganha pouco vintém.
Esse povo é sofredor
Excluído da sociedade
resgatar seu valor
seja ou onde for
é nossa responsabilidade.
20 – agora: vou parando por aqui
mas deixo algo a pensar
nesse dia seis de março
vamos se organizar
um fórum de discussão
é o que temos que firmar
pra fazer justiça a arte
e a cultura popular.
VAMOS SE ORGANIZAR!!!!