Carisma e caráter 17 de setembro de 2006
Josedomingos13@hotmail.com
A sociedade brasileira não reage com indiferença quando é divulgada nova pesquisa eleitoral. Muitos comemoram os números, alguns questionam os métodos dos institutos e outros preferem sonhar que a pesquisa não influencia nos resultados finais. Porém, não era preciso pesquisa eleitoral para adivinhar que este seria o quadro desenhado a nossa frente.
Para ser mais didático, a política virou um programa de televisão. Não um programa jornalístico com aqueles apresentadores estáticos e cronistas pessimistas como Arnaldo Jabour, nem uma novela brasileira ou mexicana, nem um programa de auditório com animadores de torcida.
É um novo tipo de programa que mais parece um reality Show. Têm participantes selecionados (em toda seleção apenas alguns são bons), tem cobertura do dia-a-dia dos candidatos, tem cenas e mais cenas editadas e tem o popular paredão.
Provavelmente o quadro de 2006 tenha o melhor elenco da história, pois a história de hoje é sempre melhor que a de ontem. Também é provável que os participantes de hoje sejam mais ou menos, ao mesmo tempo, bandidos e mocinhos. Este quadro humano é o melhor possível para um excelente reality show. O carismático que nasceu e viveu no meio do povo oprimido; o estrategista maquiavélico; os inocentes e os culpados; os laranjas que foram candidatos para outro receber votos; as melancias que apenas querem aparecer.
Antes de chegar o dia D, alguns vão sendo eliminados. Os erros percebidos são julgados por média de 1200 eleitores e ponto. Não há perdão na opinião. Há poucos meses atrás, José Dirceu era um réu. Hoje não é mais. Roberto Jéferson era julgado e também condenado. Hoje não é mais.
José Serra e Geraldo Alckmin, “vendoindo” ambulâncias sanguessugadas, tornaram-se mais perigosos que Delúbio Soares e Marcos Valério. Tal como o reality show, os eliminados são esquecidos rapidamente mesmo que acelerem o coração das meninas ou marquem o intelecto dos sensíveis. De verdade, é o carismático que fica na memória e entra pra história.
Sendo que, a cada pesquisa diminui os personagens, a cobertura diária torna-se um café de anteontem, difícil de engolir. Entra em cena a edição dos melhores momentos. Cada edição um suspense para o candidato e para o eleitor. O eleitor tem medo da sombra maldita daquele debate da era Collor em 1989, maquiavelicamente editado pela Rede Globo, e o candidato têm medo de não ser competente como foi a Globo naquela ocasião.
Vem aí o paredão final. Serra e Alckmin, sem carisma e sem caráter, dispostos a mostrar como superou Delúbio e Valério no quesito corrupção.